Dennyson
Penha
RESUMO
O objetivo deste artigo é analisar a
sociedade simples sob o aspecto do ordenamento jurídico hodierno. Necessário se
faz, para tal, abranger os tópicos gerais no tocante à constituição da
sociedade, a relação dos sócios, as funções dos administradores, a resolução da
sociedade para com o sócio minoritário e a dissolução.
Palavras-chave: sociedade,
ordenamento, sócios, resolução, dissolução.
ABSTRACT
The objective of this paper
is to analyze the simple society under the aspect of today's legal system. It
was suggested, for such cover general topics regarding the constitution of
society, the relationship of the partners, the duties of officers, the
resolution of society towards the minority partner and dissolution.
Keywords: society, legal system, membership,
resolution, dissolution.
1.
Introdução
Originada no direito suíço, a
sociedade simples foi num segundo momento adotada pelo direito italiano. No
sistema jurídico pátrio, trata-se de uma novidade societária desta nova lei
civil de 2002.
A sociedade
simples, é um tipo de sociedade onde, ao invés de haver a organização de bens
materiais e imateriais, de procedimentos como veículo para a geração de
capital, encontra-se aqui o labor “desorganizado” dos sócios sem um vínculo
propriamente dito com o agir dos outros parceiros.[1]
2.
Constituição
da sociedade simples
A constituição,
bem como os pressupostos do contrato social acham-se elencados no artigo 997 da
lei processual civil brasileira, senão vejamos:
“Art.
997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular
ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:
I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e
residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação,
nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;
II - denominação, objeto, sede e prazo da
sociedade;
III - capital da sociedade, expresso em moeda
corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de
avaliação pecuniária;
IV - a quota de cada sócio no capital social, e
o modo de realizá-la;
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja
contribuição consista em serviços;
VI - as pessoas naturais incumbidas da
administração da sociedade, e seus poderes e atribuições;
VII - a participação de cada sócio nos lucros e
nas perdas;
VIII - se os sócios respondem, ou não,
subsidiariamente, pelas obrigações sociais.”
Na mesma linha de
entendimento, FIUZA propugna:
“A
sociedade simples deve ser constituída mediante contrato particular ou de
escritura pública, que deverá conter, necessariamente, as cláusulas essenciais
elencadas nos inciso I a VIII do art. 997. Essas cláusulas básicas definem os
aspectos principais que caracterizam a sociedade, a partir da identificação e
qualificação dos sócios, que poderão ser pessoas naturais ou jurídicas.
Particularizam a sociedade sua denominação, seu objeto, sua sede e prazo de
duração [...]. Na sociedade simples, como não tem natureza empresarial,
admite-se que um sócio contribua, apenas, com serviços ou trabalho...” [2]
Todavia, nesta constituição há
várias opções de tipos ou classes de sociedade empresária tais como a Sociedade
em Nome Coletivo, a Sociedade em Comandita Simples ou ainda a Sociedade
Limitada. Sendo, conforme o caso sujeita às regras específicas de cada
modalidade, conforme o expresso no artigo 983 do Código Civil. Vale ressaltar
que, stricto sensu, a criação da
sociedade simples se dá pela inscrição do contrato social no local da sede da
sociedade no prazo legal (30 dias).
Prevê ainda o Código Civil em
seu artigo 999, sobre as modificações do contrato social:
“Art.999
As modificações do contrato social, que tenham por objeto matéria indicada no
art. 997, dependem do consentimento de todos os sócios; as demais podem ser
decididas por maioria absoluta de votos, se o contrato não determinar a
necessidade de deliberação unânime.
Parágrafo único. “Qualquer
modificação do contrato social será averbada, cumprindo-se as formalidades
previstas no artigo antecedente.”
A doutrina tem
questionado o quorum que a lei estipula para tais modificações, arvorando-se no
fato de que isto obsta demasiadamente as deliberações internas, assim, Mônica
Gusmão, diz: “os sócios deveriam ter autonomia de vontade para fixar o quorum
de deliberação das matérias diversas das elencadas no art.997 CC, ao invés de
terem que optar entre a unanimidade ou maioria absoluta de votos”[3]
3.
Sócios
Quanto aos sócios, podem ser
pessoas físicas ou jurídicas, brasileiros ou não residentes no país ou não, com
a ressalva de que, em conformidade com o artigo 222 da Carta Magna Brasileira, em
se tratando de estrangeiros é proibida a propriedade e a direção de empresas
radiodifusoras ou jornalísticas, proibido é também, ser sócio ou acionista de
pessoa jurídica proprietária destas empresas.
Em relação às obrigações dos
sócios, têm início com a vigência do contrato, se o próprio contrato não
estipular em seu bojo outra data e se findam com o registro no órgão competente
da baixa dos atos constitutivos (artigo 1001, CC).
A sociedade simples, não tem o
condão de alegar a limitação da sua responsabilidade em caso de inadimplemento,
ou seja, responde de forma ilimitada ante terceiros. Entretanto, conforme a
modalidade societária, variará a responsabilidade dos sócios, podendo ser
limitada ou ilimitada, de acordo com o caso. De maneira ampla, os sócios são
responsabilizados de forma subsidiária no limite de seu quinhão no capital
social. O sócio responde com seu próprio
patrimônio apenas na hipótese de insuficiência do societário e ainda assim, responde
só pela parcela da dívida proporcional à sua parte no capital social da empresa
depois de executados os bens sociais, conforme preceituam os artigos 1023 e
1024 do código civil de 2002.
“Dificilmente encontraremos uma
sociedade simples em que os sócios assumam responsabilidade ilimitada,
arriscando seu patrimônio pessoal em caso de inadimplemento das obrigações
sociais”[4].
Entretanto, quando omisso o contrato, a responsabilidade será como a regra:
subsidiária e ilimitada.
A sociedade simples permite que o
sócio ceda em parte ou no todo suas quotas, no instituto chamado cessão de
quotas, contudo, faz-se necessário o consentimento dos demais sócios e a
averbação de tal alteração do contrato social no respectivo registro[5].
Sem tais observâncias a cessão de quotas, será
ineficaz perante os sócios e a sociedade, além disso, o cedente responderá
solidariamente com o cessionário contra a sociedade e terceiros pelas
obrigações que tinha como sócio até dois anos depois de averbada a alteração do
contrato social. Por outro lado, o cessionário, ao receber as quotas, recebe
também a responsabilidade por todas as dívidas que a sociedade tinha antes de
seu ingresso.
O
sócio deverá efetuar a integralização do capital subscrito, observando o prazo
e a forma previstos em contrato e em não o fazendo, responderá ante a sociedade
na forma da lei (art.1004, CC), sendo denominado sócio remisso aquele que
descumprir esta obrigação.
Dentre
as modalidades societárias, a sociedade simples é a única que admite da parte
do sócio, que a sua contribuição para formação do capital social seja não só em
dinheiro mas também em bens e serviços. Sendo vedada apenas o sócio misto,
aquele que, além de trabalhar contribuiu com uma parte do capital social (art
981, CC). Ainda é válido salientar que é obrigatório que o contrato social
traga expresso em si, qual o serviço a ser realizado pelo sócio (art. 997, V,
CC).
4.
Administradores
O administrador, cuja função é
indelegável, tem aqui importância ímpar pois somente através dele, a sociedade
perquire seus direitos e arca com suas obrigações.
O parágrafo 1o do
artigo 1011 do código civil arrola as pessoas impedidas de ocupar a função de
administrador:
“Pessoas impedidas por lei especial, os condenados a pena que vede,
ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar,
de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia
popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da
concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade,
enquanto perdurarem os efeitos da condenação.”
Superadas
as verificações de impedimentos legais, os administradores devem ser indicados
no contrato social, ou averbado em apartado a ele, com o fito de tornar pública
sua nomeação, para que possam praticar os atos inerentes ao cargo.
O
artigo 1010 do código civil fala do quorum para as deliberações:
“Quando,
por lei ou pelo contrato social, competir aos sócios decidir sobre os negócios
da sociedade, as deliberações serão tomadas por maioria de votos, contados
segundo o valor das quotas de cada um.
§ 1º Para
formação da maioria absoluta são necessários votos correspondentes a mais de
metade do capital.
§ 2º Prevalece
a decisão sufragada por maior número de sócios no caso de empate, e, se este
persistir, decidirá o juiz.
§ 3o Responde por perdas e danos o sócio que, tendo em
alguma operação interesse contrário ao da sociedade, participar da deliberação
que a aprove graças a seu voto.”
O administrador é responsável por
danos à sociedade quando age com culpa ou contra a vontade da maioria. (art.
1013 e 1016, CC). Se o administrador usa bens da sociedade em benefício próprio
ou de terceiros (sem a anuência escrita dos outros sócios) igualmente
responderá por perdas e danos (art. 1017, CC).
O código Civil em seu artigo 1015
fala ainda das prerrogativas do administrador:
“No
silêncio do contrato, os administradores podem praticar todos os atos
pertinentes à gestão da sociedade; não constituindo objeto social, a oneração
ou a venda de bens imóveis depende do que a maioria dos sócios decidir. O
excesso por parte dos administradores somente pode ser oposto a terceiros se
ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses:
I -
se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da
sociedade;
II -
provando-se que era conhecida do terceiro;
III -
tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade.”
Já em seu
artigo 1020, o mesmo diploma legal relaciona como obrigação do sócio
administrador: “prestar aos sócios contas justificadas de sua administração, e
apresentar-lhes o inventário anualmente, bem como o balanço patrimonial e o de
resultado econômico.”
5. Resolução da sociedade para com sócio
minoritário
Ocorrerá em caso de falecimento do sócio (salvo
disposição contratual contrária); exclusão do sócio remisso; exclusão do sócio
falido; sócio cuja quota tenha sido liquidada; exercício do direito de
retirada; exclusão judicial do sócio por iniciativa da maioria; por falta
grave; incapacidade superveniente; cessão de quotas e exclusão extrajudicial
(arts. 1026, 1029, 1030 e 1085, CC).
Ainda assim, a resolução da sociedade
das maneiras elencadas não exime o sócio ou a seus herdeiros de
responsabilidades anteriores à resolução (até dois anos após averbada).
5.
Dissolução da
sociedade
O conceito de
dissolução pode ser empregado de duas maneiras distintas, seja para abranger o
final da personalidade jurídica da sociedade, seja para indicar o processo de
desligamento de um dos sócios de uma sociedade[6].
Dissoluções podem ser
judiciais ou extrajudiciais.
O artigo 1033 do
Código Civil, relaciona as situações extrajudiciais de dissolução: quando
vencido o prazo de duração (salvo se após vencido e sem oposição de sócio, a
sociedade não entrar em liquidação); quando há consenso unânime dos sócios; quando
os sócios deliberam por maioria absoluta e a sociedade é de prazo
indeterminado; quando há falta de pluralidade dos sócios não reconstituída em
até cento e oitenta dias; quando há a extinção, na forma da lei, de autorização
para funcionar.
Em seguida, na mesma lei em seu artigo 1034, o
legislador fala sobre a hipótese judicial de dissolução, onde pode ocorrer a
pedido de qualquer sócio desde que: anulada sua constituição; exaurido o fim
social ou verificada sua inexequibilidade.
“Ocorrida
a dissolução, cumpre aos administradores providenciar imediatamente a
investidura do liquidante, e restringir a gestão própria aos negócios
inadiáveis, vedadas novas operações, pelas quais responderão solidária e
ilimitadamente. Dissolvida de pleno direito a sociedade, pode o sócio requerer,
desde logo, a liquidação judicial” (artigo 1.036 Código Civil).
A escolha do liquidante poderá incidir
sobre pessoa não pertencente à sociedade, bastando que preencha os requisitos
de competência, honestidade e probidade.
É proibida a figura da sociedade
simples unipessoal, contudo se remanescer um único sócio, este pode ficar como
membro único por cento e oitenta dias, sendo automática a dissolução depois
desse prazo.
7.Considerações
finais
Buscou-se com este artigo, levantar
a dialética a cerca da novidade jurídica em que se constituiu a sociedade
simples depois da elaboração do novo código civil.
Tal modalidade societária tem na
versatilidade sua principal característica, vez que consubstancia em si,
elementos das demais formas de sociedade, trazendo assim diversas vantagens
legislativas neste tão valioso campo do direito privado.
REFERÊNCIAS
COELHO,
Fabio Ulhoa. Manual de direito Comercial. 15a Ed. São Paulo:
Saraiva, 2011.
CONTI, Rafael
Augusto De. Tecnologia Societária. O sócio de serviço na sociedade simples,
Teresina, ano 12, 2007.
FIUZA, Ricardo. Novo Código Civil Comentado. São
Paulo: Saraiva, 2003.
GUSMÃO, Mônica. Lições de Direito Empresarial. , 7a
Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial, 3a
Ed. São Paulo: Atlas, 2008.
Olá Dennyson,
ResponderExcluirParabéns pelo excelente texto. Nota-se claro a originalidade e a dedicação durante a pesquisa.
Contudo, faz-se necessário apresentar algumas pequenas observações:
a) As citações longas não são colocadas entre aspas. As aspas são reservadas para as citações curtas. Não há também a figura do texto em itálico, salvo se você queira "grifar algo", nesse caso deve constar ao término da citação uma expressão que indique se o "grifo" é seu ou do texto original. Veja as normas da ABNT.
b) O título dos tópicos devem estar destacado em negrito. Veja as normas da ABNT.
c) A redação do terceiro parágrafo do segundo tópico está um pouco confusa ("há várias opções de tipos ou classes de sociedade empresária tais como"), esse texto pode induzir o leitor a imaginar que exista outras sociedades empresariais que possam ser simples. Pois, salvo melhor juízo, há cinco espécies de sociedades empresariais adotadas pelo CC/02, das quais apenas três podem ser sociedades simples.
c) O ideal é que, mesmo que você resuma uma ideia e a escreva com as suas próprias palavras, você nunca dixe de apresentar o "dono" da ideia. Por exemplo: "Sem tais observâncias a cessão de quotas, será ineficaz perante os sócios e a sociedade, além disso, o cedente responderá solidariamente com o cessionário contra a sociedade e terceiros pelas obrigações que tinha como sócio até dois anos depois de averbada a alteração do contrato social." Embora o texto seja seu (exclusivo), essa ideia não foi criada por você, portanto é aconselhável que se cite o autor da ideia ou o texto legal. Você pode fazer isso no próprio parágrafo ou no parágrafo seguinte usando as expressões "nesse sentido Fulano de Tal", "nesse mesmo passo Fulano de Tal" ou "assim preceitua o artigo X" ...
d) Na referência faltou colocar a legislação.
e) A conclusão foi um pouco tímida, mas não prejudicou a essência do trabalho.
Abraço.